O MARCO ZERO DA REVISTA NÓS - CONTEXTO HISTÓRICO

Enquanto o Grupo cultural Projeto se reunia para estudos na residência do Paulo Caramenz, a equipe da Revista Nós se reunia na residência do Sr Benedito Malaquias da Hora. A equipe da Revista era uma parte significativa, se não a maioria, do GCP. No entanto, para a produção da revista, o espaço oferecido pelo Benedito (que ocupava o cargo de Tesoureiro do COMOCIDE) parecia ser mais adequado.

O Benedito Malaquias era uma liderança nata na CDD. Foi pioneiro na campanha para a construção do atual Posto de Saúde (Unidade de Atendimento Médico Primário Hamilton Land). Nos anos setenta, o posto ficou com suas obras paralisadas por falta de recursos, e o Benedito visitou todas as residências da cidade de Deus recolhendo assinaturas dos moradores. O Abaixo Assinado foi proposta do COMOCIDE, mas somente o Benedito colheu a maior parte das assinaturas. Pois bem. Este líder comunitário tinha uma atuação de destaque no COMOCIDE e um perfil ideológico segundo o qual entendia ser necessário oferecer o máximo de suporte aos jovens que se pronunciavam como potencialmente, futuros lideres políticos. O ativismo deste movimento também foi exemplar por parte da maioria dos jovens tanto do GCP/RN como de outros grupos atuantes nas diversas frentes de luta e produção cultural.

Mas voltando ao Sr. Benedito, além de nos oferecer sua casa para reuniões, preparava um delicioso milk cheik caseiro. Colocava no congelador os sacos de leite da CCPL ou VIGOR, uma vez congelados, batia no liquidificar com frutas (mamão ou abacate) eram as prediletas. Servidos em abundância acompanhando sanduíches de queijo quente. Esses lanches ocorriam todos domingos (quando não tínhamos eventos) ou em um dia de semana à noite uma vez por mês para produzir a revista. Em uma certa ocasião, o Benedito compra com seus próprios recursos o Dicionário Aurélio, para facilitar o trabalho de revisão ortográfica dos textos por nós editados. Assim, O COMOCIDE nas pessoas do Paulo Caramenz (Coordenador do Departamento Cultural, o Benedito Malaquias – Tesoureiro) se fez presente como elemento catalisador das forças que protagonizamos naquela época.

Em 1979 o GCP e a REVISTA NÓS tornam-se um só grupo. Mantínhamos os nomes por razões estratégicas e históricas. Este grupo e o COMOCID formam um certo tipo de parceria. Participei da maior parte das reuniões de diretoria do COMOCIDE e de algumas Assembléias Gerais. Ajudava o Benedito (na parte financeira, elaborando balanços e balancetes) e o Jorge Sylvestre (na secretaria, na elaboração e datilografia das ATAS.) Servi como um elemento de ligação entre a REVISTA NÓS/GCP e a Diretoria.

De 77 a 80  com a expertise desenvolvida nestes anos na produção cultural, os grupos se articulam e promovem ações nos movimentos associativista,  sindical e político. Destaca-se aqui: Intensa produção com exposições de arte, palestras, jogos, apresentações musicais nas festas do 1º de Maio; Realização do 1º Encontro Estadual Popular pela Saúde na Cidade de Deus e formação de uma chapa que concorre e vence as eleições para a diretoria e conselho fiscal do COMOCID com participação do TRE, EM 1982.

Contexto Político na CDD 

Nos anos oitenta, na Cidade de Deus tínhamos o Conselho de Moradores – COMOCIDE. Seu estatuto previa eleições de representantes de ruas, vilas e quadras. Tais representantes se reuniam em assembleias para debate e encaminhamento das demandas locais.

A diretoria, o conselho fiscal e mais algumas pessoas sem cargo específico, constituíam o núcleo duro da organização até o inicio dos anos oitenta.

Tanto no núcleo duro, como nos movimentos, coexistiam civilizadamente militantes de esquerda e de direita.

Este grupo resistia em permanecer no “poder”. Até que surgem novos grupos (maioria sub 20) criadores de novas formas de fazer política produzindo cultura.

O Grupo Cultural Projeto, Grupo Liderança Crista, Grupo Teatral Raiz da Liberdade, Grupo Acorda Crioulo, Cineclube do CIMPA, Grupo de Karate do CSU. Grupo Teatral Perspectiva e Jornal O Amanhã formavam uma nova geração. Todos estavam permanentemente mobilizados para produzir junto com as escolas publicas e particulares locais os desfiles cívicos durante a Semana da Pátria. A partir dos Blocos Carnavalesco Luar de Prata, Coroado, Garimpeiros, Os Inocentes, dentre outros, junto com a Escola de Samba Mocidade Unida Acadêmicos da Cidade de Deus, os desfiles de carnaval.

Todas essas pessoas na sua maioria jovens entre 14 e 22 anos, produziam junto com as lideranças mais velhas, a festa do dia do Trabalhador.

E todo esse povo, junto com o movimento associativista do estado do rio de janeiro e a partir das comissões de saúde formadas nas associações de moradores, fizeram o Primeiro Encontro Popular pela Saúde. O conteúdo deste encontro inclusive, forneceu os elementos para a criação do SUS.

Neste contexto, realizamos uma eleição inédita no COMOCID. A Chapa vencedora formada Por jovens na maioria oriundos do Grupo Pespectiva, Jornal O Amanhã, Revista Nós, ganha a eleição.

No entanto, um grupo de lideranças, rompe com o COMOCID e cria a Associação de Moradores Cidade de Deus (AMCD). A alegada motivação do racha foi o fato de que o COMOCIDE assumia cada vez mais o papel de protagonismo político na luta por conquistas estruturais e ampla participação popular e articulação nacional através do movimento sindical.

O grupo que criou a AMCD, certamente acreditava ser necessário seguir o conceito semelhante à gestão de um condomínio. Atento sempre aos problemas locais de eletrificação, saneamento básico e atividades de entretenimento e convívio social.

Não que o COMOCID já não fizesse essas ações. A gestão anterior e as posteriores sempre se valeram dos ofícios para solicitar reparos nas redes de esgotos sempre entupidas tanto quanto pedidos de autorização aos órgãos públicos para realizar eventos de rua. Porém seguiam mais na vanguarda de seu tempo, formando novas lideranças na luta pela redemocratização do país junto com o desenvolvimento da região.