terça-feira, 2 de outubro de 2012

OS PRIMEIROS MOVIMENTOS LITERÁRIOS NA CIDADE DE DEUS NOS ANOS SETENTA

PROLOGO


Entre 1974 e 1976 me vejo  empenhado em concluir o ginásio supletivo no Colégio Embaixador Dias Carneiro. Ao mesmo tempo realizo os primeiros ensaios como escritor de poemas.


Lanço um pequeno livreto (o que hoje chama-se fanzine). Matriz datilografada numa Olivetti portátil e reprodução em fotocópias,  intitulado, Poesia Experimental.


Os  textos versam sobre o cotidiano de pessoas simples e sua relação com a sociedade. Poesia dee protesto, contra o “estatus quo” dominante. Contra as injustiças sociais da época. Todos distribuídos de mão em mão entre amigos e vizinhas e vizinhos. Faço naquele momento dos poemas a experiência de despertar reflexão, debate e algum tipo de ação consequente, com relação aos temas abordados.


Em 1976 me matriculo em um curso noturno de formação de ator na Martins Pena, entre o Campo de Santana e o Bairro de Fátima. Durante o dia, trabalho em uma clinica radiológica na Rua do México. Agrego ao meu cotidiano visitas ao Museu Nacional de Belas Artes, ao Teatro Municipal, à Sala Cecília Meireles, ao Museu de Arte Moderna, no Aterro do Flamengo. Também leituras sobre antropologia, educação, teatro, filosofia, sociologia, economia política. Jornais “Pasquim”, “Opinião” e Jornal do Brasil, são parte do acervo bibliográfico vorazmente devorado por uma mente jovem e ambiciosa de saber e de informação.


Toda leitura, escutada, vista e lida, reproduzida em poesia!


E poema na mão, na mente e no coração, sigo compartilhando ideias e tecnologias do conhecimento CDD à dentro.


Novembro 1977. proponho a Lenilda uma amiga vizinha e fotógrafa, moradora na Rua Josias, a criação de uma revista com foco em educação, literatura e trabalho. Surge assim a REVISTA NÓS.


CRONOLOGIA DA REVISTA NÓS



Novembro de 1977 – nº 0  

Matéria na primeira página:

TRECHO DA  MATÉRIA PUBLICADA NA EDIÇÃO INAUGURAL:

"Durante a I Semana de Debates sobre o Rio de Janeiro na ABI, apesar de ser discutido separadamente  os diferentes temas (educação e lazer, assistência médica, transporte e vida comunitária), verificou-se uma reciprocidade  e relação dos mesmos por parte dos participantes  destas reuniões.(...)
Sem (...) política partidária, (...) defendendo seus interesses, estudantes e trabalhadores colocaram e discutiram seus mais profundos problemas e com isso foram vendo a necessidade de uma constante troca de experiência. De intercâmbio entre representantes de bairros de modo que suas reivindicações não objetivem somente resultados imediatos.(...)"


COMO SURGE O GRUPO CULTURAL PROJETO E SEU ENCONTRO COM A REVISTA NÓS

Quase que simultaneamente numa conversa informal com as amigas Nádia e Geórgia, surge a ideia de criar um grupo de teatro. Levamos o projeto para outras pessoas, e o grupo se amplia.


Assim surgem: O Pablo das Oliveiras (na época assinava seus desenhos e poesias como Pablito), Zélia, Camila, Paulo Caramenz, Cristina, Agnaldo e Benedito Malaquias.



Até o nome, GRUPO CULTURAL PROJETO foi resultado de um processo criativo em equipe.


A formação do grupo inicia-se com a proposta de criar uma peça de teatro numa produção coletiva. O local dos primeiros encontros foi o Centro Comunitário (um prédio anexo ao escritório da CEHAB – Companhia Estadual de Habitação). Naquele mesmo local se reunia a Diretoria do Conselho de Moradores da Cidade de Deus, COMOCIDE. E dos primeiros ensaios o prédio do clube local que hoje é da Associação de Moradores.


No ano seguinte, objetivando o desenvolvimento de uma estratégia de captação de recursos para a formação de um fundo monetário o GCP  aceita minha proposta de uma fusão com a REVISTA NÓS.


O objetivo inicial desta fusão com a  revista nunca fora alcançado. A quantia arrecadada por meio de assinatura, publicidade e doações só dava para cobrir as despesas de reprodução.


 A revista acaba assumindo os mesmos objetivos do grupo: intercâmbio com setores culturais da Cidade de Deus e de outros bairros; fomento cultural com foco no teatro e na literatura local, pesquisa de interesse sócio-político (diagnóstico social) e estudos de caso.