Wellington França
Dando
um papo do que rolou antes:
A produção da TV FRANCESA ligou
para o Paulo Lins pedindo sua ajuda para produzir uma matéria sobre oficinas
literárias com crianças. Paulo, autor do livro Cidade de Deus, no exterior,
indicou seu amigo Edson Veocca, poeta que já morou na CDD e faz parte do
Coletivo Poesia de Esquina.
Edson me telefona pedindo para
realizar uma oficina com as crianças do sarau e a gravação da matéria com Aude, jornalista da TV FRANCESA na Casa de
Cultura. Após algumas negociações e muitos E-mails, tivemos assim o grande
momento na ensolarada manhã outonal do sábado, 14 de março de 2015.
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ENTREVISTAS,
OFICINA E ...
Chega a artista octogenária D.
Tuca. Deu um dedo de prosa, marcou um dez e meteu o pé dizendo que voltaria
mais tarde.
Edson Veocca, em seguida, bem
humorado se apresenta e segue para a cozinha fazer o café.
A educadora Clezenilda entra
conduzindo a tropa de 12 meninas de 6 à 14 anos e uma penca de livros, papel
ofício, cadernos, lápis e páginas e mais páginas de poesia.
Escaldando copos e talheres,
quebro uma pequenina xícara. Corro em busca de pá, vassoura e pano de chão.
Aude, a jornalista e sua
assistente chegam como que paralisando o tempo.
Loucura geral: crianças
freneticamente comendo, copos de guaraná caindo. Eu, Veocca e Cleo limpando e
tentando organizar o birimbolo ao mesmo tempo atentos à repórter mais empolgada
com as crianças e filmá-las do que
conosco.
As duas lindas francesas logo
se sentem em casa. Misturam-se com as meninas que preferem se espalhar e se
esparramar nos degraus e bancos do jardim do meio. Outras garimpam curiosas,
livros de poesia na biblioteca.
Eu e o Veocca trocamos,
aliviados, olhar cúmplice de um temor comum de último momento: o pouco que sei
de francês ainda não dá para uma boa conversa e parece que o Edson está no
mesmo barco.
Havia implícito um entendimento
que me caberia falar sobre a Casa de Cultura. Edson ficaria bem contando sobre
o Sarau Poesia de Esquina e do premio Ações Locais cujo projeto contempla a
produção de oficinas literárias. Clezenilda responderia pelas crianças do Sarau
e o Nélio pelas oficinas que aplica. Não rolou. Mesmo com nossas mentes sob
controle algumas dinâmicas inesperadas da vida nos tornam, de velhos autores e
atores em grandes e abobalhados expectadores ou torcedores.
Cléo me pede ajuda para ficar
atento aos acessos da casa e às 12 crianças peritas na arte da invisibilidade,
temendo sumiços e precavendo acidentes.
Aude, logo toma iniciativa de
entrevistar o Veocca, depois se debruça sobre os grupos de meninas ocupadas e
muito sérias em suas anotações. Câmara ao ombro; assistente e fiel escudeira ao
lado, a simpática e também francesinha moradora do Rio.
Clezenilda, abraçada numa
cadeira, anda de um lado para o outro procurando um lugar para acomodar a
atriz, pintora, sambista, poeta e compositora, D. Tuca, incomodada ora com o sol, ora com as folhas
da árvore.
Nélio, filmado, dando
explicações, respondendo perguntas das crianças e toma-lhe entrevista.
Neste instante o que vejo é que
são as crianças que promovem a oficina e que a Aude da TV é dona absoluta da
pauta (o óbvio que já tínhamos previsto). Segue, assim, seu próprio roteiro.
Subo ao terceiro andar.
Almofadas voam amparadas pelas crianças que ajudam arrumar o salão versátil
(misto de auditório, academia de danças e lutas). Cadeiras em semicírculo;
colchonetes pelo chão.
Velho biongo oriental vira cenário. No palco de
faz-de-conta o microfone com fio ligado em lugar nenhum.
Peço ao pé de ouvido à Cléo (a
super avó da super poderosa dupla Bia e Duda), que proponha um sarau infantil. Ela então anuncia:
“Vamos fazer um sarau
igual ao do Poesia de Esquina!”
Supervisiono a subida nas
escadas. Livram-se dos chinelos, mas não desgrudam dos seus papeis (nos dois
sentidos).
“Sarau infantil organizado pela
criançada!” pondero. E com essa palavra
de ordem sem ordem, dão o jeito delas. Rapidinho uma menina muito séria, papel
e caderno em punho, faz as inscrições. Falo ao Hibrido que fique por perto para
atender o chamado de ser apresentador caso as meninas assim o decidam. A
mocinha da lista, Beatriz Fernanda, logo o convoca para a missão.
Ana Beatriz, poeta, bailarina,
neta da Clezenilda e do falecido Pastor Brasil, filha da Letícia, câmara em
punho grava tudo, e depois, fala poesia.
Recitam de todas as maneiras.
Lendo ou de memória. Improvisam quando a
mente foge. Tocam as letrinhas em volumes dos quase inaudíveis aos mais
eloquentes e impostados. Dos tons quase
indecifráveis aos mais melodiosos. E nós adultos, que fomos para ensinar e
falar delas, entendendo tudo de corpo e alma. Alguns olhos marejam. Muitos
aplausos. E como gostam de palco essas gurias!
Um desfile completo de moda e
arte. Tem até A Vitória, irmã da Alicia, sósia em miniatura da Gisele Bündchen!
Misto contra-regra e diretor
,encerro o evento, pedindo ao Hibrido ( o cara é Pastor, pai da recém-nascida Lua;
esposo de bailarina Rayra, apresentador revelação do ano do sarau Poesia
de Esquina e cantor de Hip Hop!) que feche o programa cantando. Escolhe, “Palavras tem Poder”, de sua autoria
e canta à capela, finalizando com estilo e muitos aplausos.
E quando penso que tudo acabou,
vem a Clezenilda declarando em desespero um fato trágico: Uma pré-adolescente ficou
fora da lista e não se apresentou!
Alguém dialoga com a mocinha
pedindo que se apresente. Revoltada, Letícia Larissa reluta um pouco, mas não
resiste. Sorri e finalmente, declama seu poema.
No meio de tudo, lembro-me de
Dona Tuca. Sumiu! Mas depois apareceu linda, esquentando a galera do Sarau (não
este, o outro no Bar Tom Zé) Mas esta já é outra prosa.
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